João Christovão Cardoso
João Christovão Cardoso: idealizador do Instituto de Química
Silvia Tiomno Tolmasquim
Professora titular aposentada
Departamento de Físico Química, IQ/UFRJ
Figura 1 – João Christóvão Cardoso (1903-1980) [BR MAST CC]
(Reprodução mediante autorização – MAST)
O ano de 2003 marca o centenário de nascimento do professor João Christovão Cardoso
(Figura 1), catedrático da cadeira de Físico-Química e Química Superior da extinta Faculdade Nacional
de Filosofia (FNFi), da Universidade do Brasil (UB), hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Personagem de destaque nos meios científico e universitário do país, o professor Cardoso foi, além de
idealizador do Instituto de Química na UFRJ, seu diretor com a responsabilidade da implantação dos
cursos de graduação e da instalação desta unidade universitária na Ilha do Fundão, onde atualmente se
localiza.
O Instituto de Química foi criado, em 1959, por proposta apresentada e defendida junto ao
Conselho Universitário da Universidade do Brasil, pelo professor João Christovão Cardoso,
representante da Faculdade Nacional de Filosofia naquele colegiado, com vistas a estimular a pesquisa
na área da química e promover o aperfeiçoamento de professores de nível superior. Destinava-se o
Instituto de Química da UB, conforme a proposta do professor Cardoso, a ministrar o ensino da química
em nível de pós-graduação, então inexistente no Rio de Janeiro. A criação do instituto representou,
assim, um marco definitivo na integração da pesquisa ao ensino nesse campo do conhecimento.
Naquela época, o título de doutor era obtido, não por meio de um curso de pós-graduação, mas através
da defesa de uma tese ou do concurso de provas e títulos para a livre-docência, que concedia os
diplomas de livre-docente e de doutor. Não havia, na Universidade, curso de mestrado nem programas
de pesquisa. Esta era realizada isoladamente, às custas de esforços pessoais, por alguns poucos
professores idealistas que, na maioria dos casos, tiveram no exterior algum tipo de iniciação nessa
atividade. A UB não possuía regime de tempo integral nem estrutura para o desenvolvimento de
pesquisa – a não ser em algumas áreas da Faculdade Nacional de Medicina -, motivos que levaram à
criação, em 1949, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e, em 1952, do Instituto de
Matemática Pura e Aplicada (IMPA), os quais também tiveram origem na Faculdade Nacional de
Filosofia (FNFi).
O vínculo de João Christovão Cardoso com o Instituto de Química não se encerrou com a
aprovação de sua proposta pelo Conselho Universitário já que anos mais tarde, quando em atendimento
ao que dispunha a Reforma Universitária foram criados os institutos na UFRJ com o fim de concentrarem
o ensino das disciplinas básicas afins que até então eram ministradas em várias escolas, Christóvão
Cardoso tornou-se o primeiro diretor do atual Instituto de Química (IQ).
João Christovão Cardoso nasceu, em 30 de abril de 1903, no Rio de Janeiro. Em 1914, foi
aceito como aluno do Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, tendo integrado o corpo discente deste2
estabelecimento até completar o curso secundário. De acordo com o que consta do documento
elaborado por professores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) em homenagem póstuma ao
professor Cardoso, o homenageado teria ingressado na Faculdade Nacional de Medicina, na UB, em
1926, após ter cursado até a terceira série da Escola Nacional de Engenharia, resultando desta
indefinição a formação mais ampla e segura do excepcional físico-químico que ele viria a ser; mas
segundo relato verbal do engenheiro Maximo Francisco Silva Cardoso _ filho de João Christovão
Cardoso _ seu pai, já diplomado em medicina e desejando aperfeiçoar seus conhecimentos de física,
cursou até a terceira série de engenharia porque, naquele tempo, não existiam cursos específicos de
física.
Na Universidade do Brasil, Christovão Cardoso fez jus também aos diplomas de livredocente
de física biológica pela Faculdade Nacional de Medicina, doutor em química pela Faculdade
Nacional de Filosofia e doutor em ciências físicas pela mesma faculdade.
Embora não nos tenha legado uma extensa produção científica, preocupação essa que
não existia naquele tempo, João Christovão Cardoso teve importante atuação nos meios universitário e
científico, contribuindo de forma decisiva na implantação e desenvolvimento de uma política científica no
país, o que o levou a ser admitido como membro titular na Academia Brasileira de Ciências e a ser
condecorado com as medalhas de Comendador da Ordem do Mérito Naval (Figura 2) e de D. João VI.
Não constam de seu currículo, disponível na citada academia, os trabalhos publicados, ainda assim, a
biblioteca dessa entidade dispõe de um exemplar da separata da Revista de Química Pura e Aplicada
(IV série, III ano, vol. XXXV, pp.51-63), intitulada “Estudos sobre a condução elétrica em hidrocarbonetos
líquidos” (Porto, Imprensa Portuguesa, 1952), de sua autoria e, encontra-se no Arquivo de História da
Ciência, no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), a tese apresentada ao concurso da cátedra
de física do Colégio Pedro II: “Em torno da lei de distribuição de Nernst” (Rio de Janeiro, 1963, 13p.).
Figura 2 – Professor Cardoso recebendo a Medalha de Comendador do Mérito Naval [BR MAST CNPq]
(Reprodução mediante autorização – MAST)
Christovão Cardoso exerceu cargos de natureza técnico-científica, tais como: auxiliartécnico
e assistente do laboratório da Inspetoria da Lepra (1924-1928) e químico-toxicologista do
Instituto Médico Legal (1930-1938), técnico e, em seguida, chefe do laboratório de pesquisa dos
Laboratórios Silva Araujo-Russel S. A. (anteriormente Laboratórios Silva Araujo) (1930-1941), onde3
isolou o princípio ativo do abacateiro que serviu de base à formulação do “Bi-Urol” (Figura 3),
medicamento para problemas renais.
Figura 3 – Propaganda em cartão-postal [Gorberg, 2002].
Foi, porém, no exercício do magistério e na sua atuação como presidente do Conselho
Nacional de Pesquisas (CNPq), hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
que o professor Cardoso prestou seus melhores serviços à ciência nacional.
Começou sua carreira docente como professor de ensino médio de física na Escola
Nacional de Artes e Ofícios Wencesláu Brás (1922-1923). Lecionou também esta disciplina, durante
muitos anos a partir de 1948, no Colégio Andrews e, a partir de 1952 até sua aposentadoria, no
tradicional Colégio Pedro II onde conquistou a cátedra através de concurso. O magistério em dois níveis
de ensino _ secundário e universitário _ era muito usual, seja pelo desejo de contribuir para o
desenvolvimento cultural das novas gerações, seja pelo orgulho de pertencer ao corpo docente de
escolas conceituadas, ou mesmo por questões financeiras, uma vez que ainda não haviam sido
implantados os regimes de tempo integral e de dedicação exclusiva, hoje tão comuns.
Em 1938, assumiu interinamente a cátedra de físico-química na Escola Nacional de
Química (ENQ), na UB, em substituição a José Carneiro Fellipe, seu mestre e inspirador. Tendo sido
nomeado, em 1941, catedrático interino de físico-química e química superior na Faculdade Nacional de
Filosofia, afastou-se da ENQ deixando em seu lugar Augusto Araujo Lopes Zamith. Em 1946, foi
efetivado por concurso na FNFi e, a partir de 1959, passou a colaborar também com a Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) na qualidade de professor de físico-química na Escola
Politécnica. Durante os muitos anos que dedicou à FNFi, ocupou praticamente todas as funções
docente-administrativas dentro da estrutura universitária: chefe do Departamento de Química da FNFi,
vice-diretor da faculdade (1954-1957), membro do Conselho Universitário como representante da FNFi,
membro e vice-presidente do Conselho de Pesquisas da Universidade do Brasil e presidente da
Comissão de Reestruturação da Cidade Universitária.
Para que se compreenda o ambiente de trabalho em que Christovão Cardoso atuava,
perfeitamente integrado à natureza da instituição, vale a pena mencionar que a Faculdade Nacional de
Filosofia funcionava, num único prédio (Casa D’Itália, na Avenida Presidente Antônio Carlos no 40,
Esplanada do Castelo), como uma mini-universidade com seus onze cursos cobrindo as seguintes áreas
do saber: filosofia, matemática, física, química, história natural, geografia e história, ciências sociais,
letras clássicas, letras neolatinas, letras anglo-germânicas e pedagogia. Incluía, ainda, o curso de
jornalismo e ministrava o de licenciatura para habilitação dos estudantes da Escola Nacional de Belas
Artes ao magistério da disciplina desenho. Desse íntimo convívio cultural entre discípulos e professores
de departamentos tão diferenciados, resultou uma forte integração entre os elementos dos diferentes
setores, trazendo um certo anseio por novas criações.4
A FNFi herdou de precursora, a Universidade do Distrito Federal (UDF), a preocupação de
preparar pesquisadores e professores competentes, preocupação essa que consta do ato legal de sua
criação, assim como no regimento de 1950, o qual estabelece como objetivo da faculdade:
I- desempenhar, no conjunto das unidades universitárias, o papel de
um centro de investigação e de ensino que procura conciliar o
espírito de especialização com a visão universal e humana dos
problemas;
II- analisar, caracterizar e desenvolver a cultura brasileira, relacionandoa
com a civilização continental e mundial;
III- realizar pesquisas e criações que desenvolvam a cultura filosófica,
científica e literária;
IV- formar trabalhadores intelectuais para as atividades desinteressadas
da cultura;
V- formar trabalhadores intelectuais para o magistério, orientação e
administração de escolas e sistemas escolares;
VI- formar trabalhadores intelectuais para as atividades técnicas.
Apesar de auto-motivada para a pesquisa, a FNFi não dispunha de equipamentos nem de
instalações e outros recursos materiais que permitissem a realização de investigações científicas. A
ausência do regime de tempo integral (embora já estivesse previsto no regimento) era outro fator
limitante à implantação dessa atividade nos cursos da faculdade. Tais condições adversas muito
contribuíram para incentivar a busca por outras mais favoráveis à criação científica.
Por sua vasta cultura e inteligência, sólidos conhecimentos das ciências exatas e médicofarmacêuticas,
além de indiscutível senso de responsabilidade, o professor Cardoso conquistou o
respeito e a consideração de seus pares, da comunidade científica e de seus alunos. Calmo e sereno,
era um homem bom sempre disposto a ajudar o próximo. Dotado de rara habilidade manual improvisava
aparelhagem e consertava equipamentos de física danificados, que arrecadava em outros órgãos
através de acordos e convênios, os quais passavam a ser utilizados nas aulas experimentais ministradas
por seus assistentes e instrutores, não só para os alunos de físico-química da FNFi, mas também de
outras unidades da universidade, como o Instituto de Eletrotécnica da Escola Nacional de Engenharia.
O professor Cardoso, em geral, se encarregava pessoalmente das aulas teóricas de
química superior, e confiava às professoras Bartyra de Castro Arezzo e Silvia Tiomno Tolmasquim, na
época respectivamente assistente e instrutora da cadeira, o ensino teórico da físico-química, ministrado
na segunda e terceira séries do Curso de Química. Quando possível, convidava especialistas em
determinadas áreas para desenvolver partes específicas dessa disciplina, destacando-se espectrografia
por Paulo Emidio Barbosa e coloidoquímica por Hans Zocher. Cardoso promovia também a realização de
seminários abertos aos interessados de outras instituições e a ex-alunos. O Laboratório de Amido do
Instituto Nacional de Tecnologia originou-se no laboratório de físico-química da FNFi onde, por iniciativa
de Christovão Cardoso, foram realizados seminários e estágios sobre físico-química de macromoléculas
naturais (1959-60). O amido foi escolhido para tema inicial do estudo por se tratar de matéria-prima
abundante e barata no Brasil. Sensível aos progressos da tecnologia nuclear, o professor Cardoso
incluiu em sua cátedra, na década de 1960, a disciplina opcional química nuclear e radioquímica, cuja
ementa foi revista e atualizada em 1970 e adotada pela COPPE/UFRJ, no curso de pós-graduação em
engenharia nuclear na opção química nuclear e radioquímica. Estas disciplinas foram ministradas por
Bartyra Arezzo. Po outro lado, como a disciplina evolução da química integrava o currículo do Curso de
Química como matéria opcional mas não se incluía em qualquer das cátedras, o professor Cardoso
assumiu a incumbência de ministrá-la, para não diminuir as possibilidades de opção pelos alunos. Face à
sua experiência profissional e cordialidade, vários professores e profissionais de áreas afins, bem como
ex-alunos, vinham com freqüência ao laboratório de físico-química para discutir seus trabalhos,
esclarecer dúvidas ou simplesmente trocar idéias sobre assuntos gerais.
Em 1956, no governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, João Christovão Cardoso foi
nomeado vice-presidente do CNPq, sendo presidente o então tenente-coronel-aviador Aldo W. Vieira da
Rosa, que havia assumido o órgão com a oposição generalizada da comunidade científica por ser um
elemento estranho à mesma. Se bem que Vieira da Rosa estava conseguindo contornar esse problema,
sua gestão durou pouco mais de quatro meses pois, após ter sofrido grave acidente ao participar de um5
torneio aeronáutico na França, pediu demissão do cargo. Christovão Cardoso, que assumira
automaticamente o exercício da presidência em agosto de 1956, foi confirmado oficialmente no cargo em
fevereiro de 1957, exercendo-o até o final do governo de Juscelino Kubitschek, em 1961 (Figura 4).
Cardoso teve como vice-presidente o seu amigo e colega de magistério na Escola Nacional de Química
e na Faculdade Nacional de Filosofia, Athos da Silveira Ramos que se tornaria, mais tarde, presidente do
CNPq (1962-1964). O professor Athos participara anteriormente, ao lado do professor Cardoso, do
processo de estudo, planejamento e implantação do Instituto de Química, na Universidade do Brasil.
*
Figura 4 – Inauguração em Niterói do acelerador sincrocíclotron de 21 polegadas em 27 de janeiro de 1961; ao
lado do professor Christóvão Cardoso, o almirante Álvaro Alberto e Athos da Silveira Ramos [BR MAST CC]
(Reprodução mediante autorização – MAST)
A gestão de João Christovão Cardoso no CNPq foi bastante dificultada pela falta de
recursos financeiros que, de 1956 a 1961, caíram em mais da metade porque, na época, as atenções do
governo estavam voltadas para um desenvolvimento acelerado, com prejuízo para a investigação
científica e tecnológica. Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, o então presidente do Conselho
Nacional de Pesquisas, sem deixar de apoiar às prioridades do governo, principalmente nas áreas
industrial e agronômica, conseguiu levar para primeiro plano a formação de recursos humanos, além de
ter obtido algum apoio à pesquisa básica.
Em entrevista concedida a Shozo Motoyama, em 1982, assim se manifestou Athos da
Silveira Ramos: “João Christovão Cardoso foi um dos grandes presidentes do CNPq. Grande até mesmo
pela sua modéstia. O professor João Christovão Cardoso não gostava de aparecer, fazia quase tudo de
maneira indireta, mas não sei se algum presidente do CNPq conseguiu ter mais confiança dos membros
do Conselho Deliberativo. Era um homem da maior integridade moral, um cientista de primeira categoria
e considerado pelo professor José Carneiro Felipe como seu melhor sucessor na cadeira de físicoquímica
na Escola Nacional de Química. Como fato mais impressionante de sua gestão, encontramos a
instalação do primeiro reator de energia nuclear no Brasil. Esse reator foi planejado no tempo de Álvaro
Alberto, mas ele conseguiu recursos nacionais e americanos para fazer a sua instalação no IEA. Ele
dirigia todas as reuniões com os engenheiros e cientistas americanos que aqui vinham para tratar do
assunto. Atualmente esse reator é considerado de pequena projeção na área da física nuclear, mas
naquele tempo era o expoente, o máximo. O país instalou o seu primeiro reator devido ao esforço e
prestígio de João Christovão Cardoso junto ao presidente Kubitschek, que liberou as verbas que
possibilitaram a construção de uma instalação condigna para o reator em São Paulo.
Marcelo Damy era o representante do instituto no Conselho Deliberativo, mas todas as
decisões e todas as gestões internacionais eram feitas pelo professor Cardoso. Além disso, é de lembrar
que o professor Cardoso procurou aumentar o intercâmbio com as universidades, levando o conceito das
bolsas de Iniciação Científica (IC) para motivação dos estudantes para a pesquisa dentro da
universidade. Outra realização dele foi a instalação do primeiro computador, não sei se no Brasil, mas
aqui no Rio de Janeiro. Foi o primeiro computador de grande porte, uma máquina imensa, embora hoje
pudesse ser substituída por uma máquina pequena; mas foi uma grande conquista para os cientistas do6
Rio de Janeiro. Foi instalado na PUC, com o auxílio do CNPq e outras companhias. Em Niterói, ele
instalou toda aquela maquinaria do Sincrocíclotron, que depois foi transferida, acredito, para São Paulo.
Ele já não está mais aqui para depor, mas o seu diretor técnico-científico foi o professor
Antônio Couceiro. Com ele, foram elaborados todos esses planos a que estou me referindo, e também
deu-se estímulo à área médica, porque João Christovão era físico e matemático, mas também era
médico, e ele tinha grande simpatia pela área de biologia e médica. Eu o reputo como um presidente
muito importante do CNPq.” (Motoyama, 2002, pp.175-6).
A cronologia, apresentada à página 704 da obra acima citada, destaca os seguintes fatos
relacionados com o CNPq, ocorridos durante a gestão de Christovão Cardoso:
-1956 –1960 – A dotação do CNPq passa de 0,28% do orçamento da União, em 1956,
para 0,09% em 1960;
-1957 – Criação do Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), em convênio com a UFMG
(Grupo do Tório); proposta para criar o setor de ciências sociais do CNPq; inauguração
do reator de energia atômica do IEA; organização do Instituto de Pesquisas Rodoviárias
(IPR);
-1960 – Instalação do primeiro computador de grande porte no Brasil, em convênio
entre CNPq, Ministério da Guerra, Companhia Siderúrgica Nacional e PUC-RJ;
obtenção de urânio nuclearmente puro por técnicos do IEA; transferência do IEA para a
CNEN.
Nos anos de 1967-68, período de grandes agitações políticas, a FNFi foi submetida a um
processo de desmembramento até a extinção definitiva e os docentes do seu Departamento de Química
foram transferidos para o Instituto de Química que iniciava, a partir deste momento, a segunda fase de
sua existência, visando à graduação além da pós-graduação, e passando a integrar o Centro de
Ciências Matemáticas e da Natureza, na UFRJ. Em conclusão: após o início exclusivamente na pósgraduação,
face à Reforma Universitária, o Instituto de Química (IQ), além de continuar com o encargo
dos cursos de pós- graduação stricto sensu, assumiu a responsabilidade de ministrar também as
disciplinas básicas do ensino da química para toda a área científico-tecnológica da universidade.
Anteriormente, várias unidades ensinavam disciplinas idênticas, com duplicação de docentes e
equipamentos. Cardoso, que de acordo com a nova nomenclatura da carreira do magistério era agora
professor titular da cadeira de físico-química e química superior, aceitou o desafio de, como diretor pró-
tempore do novo Instituto de Química, vir a instalá-lo no Bloco A do Centro de Tecnologia, na Ilha do
Fundão. O corpo docente da cadeira de físico-química e química superior da FNFi, quando da
transferência para o IQ, era assim constituído (por ordem cronológica de nomeação):
Professor titular – João Christovão Cardoso;
Professores adjuntos – José Walter Faria, Bartyra de Castro Arezzo e Silvia Tiomno
Tolmasquim;
Instrutores – Paulo Kobler Pinto Lopes Sampaio e Maria da Penha Macedo Jacobina.
Na oportunidade da transferência, José Walter Faria, que já vinha colaborando
informalmente na cadeira de mineralogia, optou pelo Instituto de Geo-Ciências e Mozart Ferreira de
Azevedo que, em sucessão a Gildasio Amado, ensinava a disciplina complementos de química para
estudantes do Curso de História Natural na FNFi, passou a integrar o Departamento de Físico-Química
no IQ.
O professor Cardoso exerceu a função de diretor do IQ juntamente com a chefia do
Departamento de Físico-Química até sua aposentadoria compulsória, em 1969, em decorrência do Ato
Institucional no
5 (AI-5).
Meses depois, os docentes da ENQ também foram transferidos para o IQ, na Ilha do
Fundão, tendo os professores titulares Augusto Zamith e Jorge de Abreu Coutinho sucedido Christovão
Cardoso respectivamente na chefia do departamento e na direção do instituto.
Após a aposentadoria compulsória no Serviço Público Federal, o professor Cardoso
passou a se dedicar exclusivamente ao Instituto de Química da PUC-RJ, onde montou seu laboratório de
pesquisa e reiniciou seus trabalhos universitários.
Em 18 de setembro de 1980, ao regressar ao lar depois de um dia de atividade na PUC,
confessou ao porteiro que não estava se sentindo bem, subiu ao seu apartamento, sentou-se na cadeira7
predileta e, enquanto sua filha foi buscar o chá que habitualmente tomava, desfaleceu vitimado por um
infarto do miocárdio, vindo a falecer sem ter presenciado, em vida, o reconhecimento que hoje lhe é feito.
Fontes Primárias
– Cardoso, João Christovão. “Curriculum-vitae”. s. d.
– Professores do Departamento de Físico-Química. “João Christovão Cardoso”. Rio de Janeiro,
Instituto de Química, UFRJ. (Homenagem póstuma). s. d.
– Professores do Instituto de Química. “João Christovão Cardoso”. Rio de Janeiro, PUC – RJ.
(Homenagem póstuma). s. d.
– Arquivo Christóvão Cardoso, Arquivo de História da Ciência – MAST, Rio de Janeiro, consultado em
junho de 2003.
– Arquivo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Arquivo de História da
Ciência – MAST, Rio de Janeiro, consultado em junho de 2003.
Bibliografia
– Faculdade Nacional de Filosofia/UB. Regimento. Rio de Janeiro, 1950, 161 p.
– Fávero, Maria de Lourdes de A. (coord.). Faculdade Nacional de Filosofia: Depoimentos. Rio de
Janeiro: UFRJ/FUJB/CFCH/FE/PROEDES, 1992, 542 p.
– Gorberg, Samuel. A propaganda no Brasil através do cartão-postal: 1900-1950. Rio de Janeiro,
Gorberg, S, 2002.
– Motoyama, Shozo (org.). 50 anos do CNPq: contados pelos seus presidentes. São Paulo: FAPESP,
2002, 720 p.
– Tolmasquim, Silvia T. e Arezzo, Bartyra de C. “Comentários sobre a interdisciplinaridade da física e
físico-química” História, ciências e saúde: Manguinhos v. 9, n. 3, pp. 647-87, 2002.
Agradecimentos
A autora registra aqui especiais agradecimentos à química Bartyra de Castro Arezzo, pesquisadora titular
aposentada da CNEN e ex-professora adjunta do Departamento de Físico-Química do IQ/UFRJ, pelas
valiosas sugestões apresentadas; à professora Nadja Paraense dos Santos, do LabMMol – IQ/UFRJ,
pela pesquisa e inserção de fotografias no texto; ao engenheiro Máximo Francisco Silva Cardoso (in
memoriam) pelos esclarecimentos sobre certos detalhes da vida de seu pai, professor João Christovão
Cardoso; e à socióloga Ivanita Raquel Barbosa Velloso, coordenadora do Projeto Memória/Academia
Brasileira de Ciências, por ter facilitado o acesso a algumas fontes de dados.