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Nota de Falecimento – Professor Angelo da Cunha Pinto


É com profundo pesar que o comunicamos o falecimento do Professor Angelo da Cunha Pinto, aos 66 anos de idade, ocorrido na manhã desta quarta-feira, 07 de outubro, na cidade de Niterói-RJ.

O velório será realizado no dia 08/10/2015, das 14:30 às 15:30, no Cemitério Parque da Colina, localizado na Estrada Francisco da Cruz Nunes, Pendotiba, Niterói – RJ. A cremação acontecerá a partir das 15:30 h.
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Professor Angelo da Cunha Pinto

Professor Angelo era Docente Titular do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (tendo sido Diretor da nossa Unidade no período de 2000 a 2004), membro titular da Academia Brasileira de Ciências  e um dos maiores especialistas na área de Química de Produtos Naturais. Também participou por muitos anos da editoria do Journal of the Brazilian Chemical Society, além de ser editor da Revista Virtual de Química.

Como pesquisador, logo teve interesse em estudar o desenvolvimento de novos métodos de síntese de substâncias heterocíclicas e o desenvolvimento de separação de substâncias orgânicas. Sua produção científica na Química de Produtos Naturais sobre a família das Velosiáceas e, no caso da síntese orgânica, sobre o núcleo de uma substância denominada isatina, fez com que ele e seu grupo de colaboradores do Laboratório de Produtos Naturais do IQ obtivessem liderança nacional e internacional.

Em 1992, Professor Angelo e seu grupo de pesquisa receberam o Prêmio Ambriex, da Sociedade de Farmácia e Química de São Paulo, com um estudo sobre a síntese de hormônios vegetais. As substâncias que deram origem a este hormônio eram naturais e foram isoladas da família das Velosiáceas.

Sobre a sua  brilhante trajetória acadêmica e vasta produção no campo científico, divulgamos abaixo o texto elaborado pelo Prof. Vitor Francisco Ferreira, docente vinculado ao Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense, publicada no Boletim da Sociedade Brasileira de Química – SBQ  Especial Angelo da Cunha Pinto (acesse aqui).

“É com grande tristeza que hoje escrevemos mais uma página da história da ciência no Brasil. Faleceu em Niterói, no dia 7 de outubro, o Professor Angelo da Cunha Pinto, 66 anos, professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seu pioneirismo na síntese orgânica e na química de produtos naturais no Brasil o coloca para sempre na história da ciência brasileira.

Nascido na província de Marco de Canavezes em Portugal em 02 de dezembro de 1948, Angelo da Cunha Pinto bacharelou-se em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1971, obteve mestrado em Química pelo Instituto Militar de Engenharia (1974) e doutorado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). Era pesquisador 1A do CNPq e Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1997. As suas linhas de pesquisa de interesse se estendem em vários domínios da Química Orgânica. Mas, a sua grande paixão sempre foi a Química de Produtos Naturais atuando principalmente nos seguintes temas: croton cajucara, velloziaceae, isatina, trans-de-hidrocrotonina e diterpenos.

Angelo Pinto sempre foi um excelente aluno em história e só tirava nota 10. Daí veio seu gosto sobre a história da Ciência. Ele gostava de reunir os amigos e contar estórias de plantas, bruxarias, religião, naturalistas e as poesias relacionadas aos produtos naturais. Dizia que, para se conhecer os segredos e os mistérios das plantas, é necessário conhecer o seu metabolismo secundário. Isto significa descobrir as suas micromoléculas e os seus papéis na vida dos vegetais. Por coincidência, a comissão do Nobel o homenageou, premiando a parte da área de medicina que utilizou os produtos naturais para tratar as doenças parasitárias negligenciadas.

Angelo foi um pesquisador muito atuante dentro da comunidade química e um grande articulador da ciência nas agências de fomento. Na Sociedade Brasileira de Química, atuou em diversos cargos executivos, como por exemplo, presidente da Sociedade Brasileira de Química no biênio 1986-1988. Na sua militância pela SBQ, um dos grandes prazeres foi ter ocupado a editoria do Journal of the Brazilian Chemical Society, período em que o periódico passou ter reconhecimento nacional e internacional e ter se tornado um dos principais periódicos da América Latina, e ser um dos mentores da criação da Revista Virtual de Química. Dizia Angelo: “vale a pena se dedicar de corpo e alma àquilo que se faz”.

Em colaboração com muitos colegas e alunos produziu uma longa série de trabalhos sobre síntese orgânica e produtos naturais. Foram 328 artigos científicos, 7 capítulos de livros e 6 patentes. Em termos de formação de recursos humanos, orientou 49 mestres e 34 doutores. Esses números apenas retratam parte do trabalho de uma vida do cientista Angelo da Cunha Pinto.

Seu trabalho e militância pela ciência brasileira foram reconhecidos através de inúmeros prêmios e distinções, como a Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidência da República do Brasil – 1998, Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico – presidência da República do Brasil – 2004, Químico do Ano e Retorta de Ouro – Sindicato dos Químicos e dos Engenheiros Químicos do Rio de Janeiro – 1995, Químico do Ano, Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro – 1995, Medalha Simão Mathias da SBQ – 1997, Prêmio Rheimboldt-Hauptmann/Rhodia – 1997, Medalha Paulo Carneiro, UNESCO-Academia Brasileira de Ciências e Academia Brasileira de Letras – 2001, Diploma de Amigo do Instituto Militar de Engenharia – 2007, homenagem nos 30 anos da SBQ – 2007, dentre muitas outras distinções acadêmicas recebidas.

Recentemente, ele escreveu em um texto uma frase que dizia “tenho a SBQ em meu DNA”. Essa frase traduz sua paixão pela sociedade de química que ele adotou e defendeu como sendo interlocutora da química brasileira.

Hoje a ciência brasileira perde um grande cientista e o País perde um grande português que viveu como brasileiro de coração.”                     
(Prof. Vitor Francisco Ferreira, docente IQ-UFF)

Neste momento de profundo pesar, toda a Comunidade do Instituto de Química, composta por alunos, professores, técnicos e pesquisadores, solidariza-se com a família do Professor Angelo da Cunha Pinto.

Agradecemos imensamente a enorme contribuição do Professor Angelo, cuja atuação foi  imprescindível para o desenvolvimento e fortalecimento do IQ-UFRJ como instituição e como centro de referência no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão.